segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Samuel Russell comenta investimento da General Motors na Stock Car

Urika Coimbra
Do Autódromo de Interlagos
7 de dezembro 10h

Samuel Russell, diretor de marketing da marca Chevrolet da GM do Brasil, fala sobre o investimento na Copa Nextel Stock Car. À frente de uma estratégia que começou há 28 anos, Samuel comemora o retorno obtido pelo patrocínio e explica a boa fase da categoria, que segundo ele, conta com avanços muito positivos e pode assumir no país a mesma força que tem a Nascar nos Estados Unidos. Valores de marca, estratégias de relacionamento e apostas nesse modelo de negócio pela GM são revelados na entrevista a seguir.

STOCK – Que razões justificam o investimento da General Motors na Stock Car?
RUSSELL – Nosso investimento na Stock Car vem de longa data, já são 28 anos investindo na categoria por uma razão muito simples: o automobilismo para o brasileiro é o esporte de maior afinidade após o futebol. Esse é um dos fatores. Segundo, somos uma empresa de automóvel, então, entre patrocinar futebol, vôlei, lançamento de peteca, patrocinamos a Stock, que se encaixa bem com a marca pelo esporte em si ser com automóvel. A categoria é muito mais alinhada com a nossa estratégia, o que torna mais fácil a transição de valores de patrocínio para a nossa marca. E terceiro, seja de protótipos de carros de alta performance, como o V8, ou da categoria GT3, ou Stock Jr., carrinho gaiola ou carrinho fórmula, o ato de ir a uma corrida é visto pelos brasileiros com certo romantismo e é também um evento espetacular. Pensando nesses três elementos, o nosso investimento é voltado justamente para esse foco, automobilismo alinhado com fábrica de automóveis, independentemente de produzirmos ou não carros de corrida.

STOCK – O que esperam transmitir para a marca Chevrolet através do apoio à categoria?
RUSSELL – Competitividade, esportividade, um pouquinho de energia e adrenalina; emoção para o nosso telespectador. A Stock Car é um evento excepcionalmente organizado, de alto calibre, alto nível profissional e uma excelente ferramenta de relacionamento com o público, compradores, fornecedores, parceiros estratégicos. Todo mundo quer ir à corrida de Stock Car, de final ou início de temporada. Por que não agregar a imagem da marca a essa atividade e ao mesmo tempo fazer relacionamento? Essa é a lógica que usamos por trás. E tem outra lógica, eventualmente temos campeões dirigindo os nossos carros e esses se tornam porta-voz das nossas marcas, o que também ajuda a transmitir valores como marca de campeão, marca vencedora. Tendo isso como base do nosso trabalho, o conceito de patrocínio na Stock Car não é diferente do patrocínio de outros esportes. Apenas, o coincidente alinhamento do nosso negócio com o automobilismo é que gera mais força para o nosso uso nesse sentido.

STOCK – O investimento vale a pena mesmo considerando que os carros de competição são totalmente modificados e não representam os carros de rua? Você acha que o público, em geral, tem esta noção de que os carros que competem não são os modelos encontrados nas concessionárias?
RUSSELL – Em nenhuma categoria de corrida no mundo, que eu conheça, o carro que está na pista é o carro que está na concessionária. Um carro de corrida tem alteração de motor, de suspensão, freio, equipamentos de segurança como gaiola, enfim, tem muitas coisas que não existem na concessionária. O carro na concessionária é um carro de passeio, um carro para a rua com faróis, lanterna, pisca-pica, cinto de segurança diferenciado. A lista de equipamentos que compõem um carro de corrida e a lista de equipamentos que compõem um carro de rua não poderiam ser mais diferentes. Tem uns puristas que acham que o carro que corre na Stock Car, que damos o nome de Astra porque ele tem a aparência de um Astra, ou dos carros concorrentes, é de alguma forma uma enganação ao público. Em nenhum momento esperamos que o público imagine que os carros de corrida são iguais aos da concessionária, da mesma forma que qualquer outro carro de corrida no mundo não é igual ao carro encontrado na concessionária. Nós temos a categoria TC 2000 na Argentina, por exemplo, que é um monobloco de um Astra, ou seja, é a carroceria de um Astra de verdade. Fora isso, não tem nada do carro original. O motor, que custa de 100 mil dólares a 200 mil, suspensão, roda, freio – tudo é diferente, não tem nada a ver com o Astra que está nas ruas.

STOCK – A Stock Car, especialmente quando comparada com as competições que usam monoblocos, é criticada pelo uso das bolhas. Como vêem essas considerações?
RUSSELL – Os puristas falam que por não termos o monobloco na categoria Stock Car é de alguma forma enganação. Desculpa, mas eu não vejo dessa forma. Nós estamos apoiando a maior e a melhor categoria do automobilismo brasileiro. O público gosta do automobilismo, ou seja, corrida de carro. Carro se define como motor de transmissão, carroceria e rodas. O formato do que está na pista não é diretamente relevante à nossa atividade. Agora, a categoria, por concepção, usa um carro de turismo. Na verdade, é um carro de corrida com a cobertura de turismo. É óbvio que a marca Chevrolet, a Mitsubishi, a Volkswagen e a Peugeot, vão associar alguma bolha da marca àquele carro, porque é simplesmente mais conhecimento espontâneo sobre a linha dos nossos produtos. Em nenhum momento as montadoras estão dizendo que o carro das pistas é o mesmo carro que está nas concessionárias. Nem por isso, deixa de valer a pena todo investimento do patrocínio. Automobilismo como evento, como paixão do brasileiro, profissionalmente organizado é uma excelente ferramenta de relacionamento.

STOCK – Por que a bolha escolhida foi a do modelo que corresponde ao Astra?
RUSSELL – A bolha Astra não é para dizer que o carro da rua é o mesmo da corrida, e sim uma escolha pelo posicionamento do nosso carro Astra no mercado. Você percebe isso através das nossas campanhas publicitárias, que focam a performance. O que é uma corrida? É uma atividade relacionada à performance, então a associação com o Astra corresponde bem ao posicionamento da marca, aos valores agregados que desejamos trazer. No fim é um excelente evento para o povo brasileiro, que gera paixões; tem gente que chora, gente que ri. É uma forma do público se relacionar com as marcas.

STOCK – Além da exposição na mídia, como avalia outros ganhos que esse investimento traz para a marca? A GM mede o retorno da imagem que obtém pelo patrocínio na Stock Car?
RUSSELL – Avaliamos, basicamente, em três aspectos. O retorno sobre a marca através de pesquisa. A Stock Car é uma parte importante do posicionamento da marca na cabeça do consumidor brasileiro. Não é o único elemento, então não dá pra separar o que é Stock Car, mas sabemos que tem um impacto muito positivo em termos de percepção da marca pelo público. Além da mídia que você falou, nós temos outras formas de prover o retorno que é exatamente o interesse de vários públicos nossos de irem ao autódromo. Tantas pessoas querem ir que promovemos competição de vendas interna, ou nas concessionárias, ou em pós-vendas, participação de consumidor com atendimento, enfim, competições buscando melhorar a nossa performance e nossos indicadores. Aqueles que atingem os objetivos pedidos são premiados com a Stock Car, então, volta naquele quesito do evento. O evento profissionalmente montado, independentemente do que está acontecendo na pista, que tipo de carro está correndo, vale muito a pena. O brasileiro está vendo isso.

STOCK – Que outros fatores, fora o retorno medido, dão credibilidade à continuidade do patrocínio pela Chevrolet?
RUSSELL – Compartilhamos com a Vicar a visão de construir no Brasil um campeonato de automobilismo tão competitivo, tão rentável e tão importante quanto é a Nascar nos Estados Unidos. Eles têm o mesmo conceito que nós usamos hoje e é, sem sombra de dúvida, o campeonato de automobilismo mais popular do mundo, de maior rentabilidade. Para você ter uma idéia, ela consegue movimentar o PIB dos EUA, um exemplo excepcional do que é o automobilismo bem administrado, bem utilizado como competição e como ferramenta de marketing de posicionamento de marca e de entretenimento. Essa é a nossa visão a longo prazo, acreditamos muito nisso, obviamente, a Chevrolet é altamente envolvida na Nascar nos EUA e queremos repetir essa fórmula no Brasil. Vamos chegar lá, mas não é uma questão do que está correndo na pista, na verdade, é acreditar no modelo de negócio, que é muito bom.

STOCK – Como você enxerga a evolução da Stock Car comparativamente com o que ocorre na Nascar atualmente? O quanto de avanço ainda existe para alcançar?
RUSSELL – Tem muito avanço e o que caminhar, mas eu diria que são três coisas que já conquistamos, o que indica que a nossa base de trabalho é extremamente forte. Primeiro, a partir de 2008, todas as corridas estarão ao vivo na tv aberta, o que já é uma grande conquista. Segundo ponto, pela primeira vez no automobilismo brasileiro um piloto da Stock Car pode viver do automobilismo como profissão. E o terceiro ponto, vemos a popularidade de o evento crescer, a afinidade aumenta todos os dias com o público brasileiro. Ainda existe uma limitação geográfica, pois não conseguimos ir para o nordeste com essa categoria, mas, certamente, na medida que a infra-estrutura brasileira melhorar vamos conseguir fazer isso. Acho que um dos grandes números indicativos é a freqüência média no autódromo hoje para uma etapa da Stock Car, que já é maior do que a média dos ingressos vendidos para o jogo do campeonato brasileiro. Esses três fatores, para mim, mostram que estamos no caminho certo. Continuamos progredindo nesses indicadores, aumentando a popularidade do esporte e a capacidade dele de se sustentar como negócio rentável no Brasil.

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