quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A Paulista dos meus sonhos

Ontem, estava na sala de espera para uma consulta médica, circunstância que me fez buscar entre revistas, jornais e livros um antídoto para a ansiedade. Normalmente não encontro em consultórios leituras do meu interesse, o que chega a ser uma desculpa forçada para sair um pouquinho da minha esfera de conforto e aprender coisas novas. Por mais que eu olhe e pense "ah, detesto isso". Nesse exercício acabo esquecendo que o médico está atrasado ou aceito, menos contrariada, que chamem outro paciente na minha frente.

Foi assim que encontrei um livro que mostrava a evolução da avenida Paulista desde a sua construção até os anos 2000. Saí vitoriosa dessa batalha mental, totalmente desnecessária, uma vez que na sala de espera existia apenas um concorrente, tímido e pouco interessado em ler, que logo foi chamado pelo médico.

Todos os dias passo pela Paulista. Não moro ali perto, muito menos trabalho nos elegantes e movimentados prédios da avenida. Também não tenho parentes nem vivo um caso de amor com algum morador da região, o que seria uma ótima ideia. Entretanto a Paulista me chama todas as noites para suadas horas de ginástica na academia que frequento há mais de um ano e que está localizada num dos pontos mais conhecidos de lá, o Conjunto Nacional.

Com o livro em mãos, conheci a avenida Paulista do uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, uma estrada de terra, cheia de árvores, sem iluminação, praticamente deserta. Mesmo longe de lembrar a imponente Paulista de hoje, ela nasceu de um projeto similar às grandes avenidas europeias da época: larga e extensa, com dois mil e oitocentos metros de comprimento. Algumas fotos à frente, descobri uma Paulista de três vias, asfaltada com material alemão, pronta para acomodar a elite do café e a crescente burguesia industrial. No início, as residências eram frequentadas só nas temporadas de verão. Aos poucos, as ricas famílias brasileiras deixaram as cidades do interior e regiões centrais de São Paulo para habitar mansões luxuosas à beira da avenida, que passou a se chamar Paulista "em homenagem aos paulistas". Suas transversais e paralelas como Campinas, Lorena, Santos e Jaú, foram homenagens às cidades do interior do Estado.

Não pude avançar muito mais na história porque logo fui chamada à consulta. Também não sei o quanto estava interessada em ver a modernização da avenida e conhecer mais profundamente o surgimento de seus edifícios e grandes construções. Cheguei a descobrir alguns dados curiosos sobre o Conjunto Nacional e notei que o lugar onde piso todos os dias teve uma importância histórica maior do que imaginava e que por ali passaram grandes presidentes, artistas famosos e famílias ilustres exibindo um requinte que hoje não se vê mais entre os visitantes.

Esqueci de mencionar o endereço do consultório em que estava: Praça Oswaldo Cruz, número 124, início da Paulista no bairro do Paraíso, razão para encontrar um livro que contava a história da avenida. Encerrada a consulta, lá fui percorrer uma Paulista bem diferente daquela das fotos. Inevitavelmente, passei a me imaginar atravessando a avenida larga e arborizada de 1900. Quanto tempo levaria para chegar ao fim? Quantos motoristas estariam à frente? Andaria de bonde ou de charrete? No primeiro semáforo em que parei notei que a avenida está em obras, o trânsito parece ainda mais intenso, os cruzamentos mais caóticos e os dois mil e oitocentos metros mais extensos. Abri um sorriso e senti uma enorme satisfação. Joaquim Eugênio de Lima daria tudo para estar no meu lugar cruzando a sua Paulista.


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