sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Vizinhas
Do lado de fora de suas casas geminadas, não na calçada, cada uma de dentro da varanda, as senhoras conversavam. Alheias aos barulhos da rua e ao meu olhar observador. Conduzia a Sarah, uma criatura canina, em frente ao edifício que me acolhe. Não pude evitar uma repentina admiração. Deixei-me seduzir pela cena e a repará-la por alguns instantes. Quis comentá-la, mas como ainda não aprendi a linguagem dos cães, aceitei falar com os meus pensamentos. Era bonita a conversa. Tinha virtude. Elas usavam roupas parecidas e de cores femininas. Saias comportadas e blusas confortáveis. Seus corpos robustos, mas saudáveis, indicavam que aquele poderia ser um colóquio culinário. Quem sabe a receita do almoço? Ou o segredo do jantar de ontem? Os filhos seriam versos inevitáveis. Suas maiores alegrias e tudo o que mais importava até o último dia de vida. Implicariam com as cunhadas e a falta de atenção que, vez ou outra, sofriam. Reclamariam da saúde, listando dores que apareceram de uns tempos pra cá. E antes que a chaleira apitasse, o gato miasse, as pernas cansassem, convidaram-se a terminar a prosa um pouco mais tarde.
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2 comentários:
Uri, é impossível não ler o seu relato e imaginar a cena em seus mínimos detalhes! Fantasiar sobre a conversa das duas senhoras, então, é um convite praticamente irrecusável!
Confesso a você que não sei por que, mas resolvi dar uma passadinha aqui no Bola de Cristal antes de me deitar. E depois de ler o seu texto, tenho uma certeza: não poderia haver maneira melhor de terminar o meu dia! É por essas e outras que sou seu fã de carteirinha!
Beijos!
Também adorei, querida.
Você é demais.
O texto me lembrou uma poesia que fiz. O mesmo assunto, com outro formato. Veja, se puder:
http://blogdivertudo.blogspot.com/2007/03/conversinha.html
bjs! parabéns!
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